Clarividência no Espaço: Semi-Intencional

Enviado por Estante Virtual em dom, 22/01/2012 - 02:59

Sob este título um pouco estranho reúno os casos de todos os indivíduos que claramente se propuseram ver qualquer cousa, mas sem terem noção do que essa cousa seria, nem domínio sobre a vista desde que hajam começado as visões — Micawbers psíquicos, que se colocam numa situação puramente receptiva e passam a esperar que qualquer cousa aconteça. Muitos médiuns de transe entrarão nesta categoria; ou se hipnotizam a si próprios, de qualquer maneira, ou são hipnotizados por qualquer "espírito-guia", passando depois a descrever as visões que aconteça passarem-lhes diante da vista. Às vezes, porém, quando neste estado, vêem o que se está passando a distância, e assim têm que tomar lugar entre os nossos "clarividentes no espaço". 

Mas o grupo maior e mais espalhado destes clarividentes semi-intencionais é o dos vários gêneros de cristalovidentes — aqueles que, como diz o sr. Andrew Lang, "olham para dentro de uma esfera de cristal, de uma taça, de um espelho, de um pingo de tinta (Egito e índia), de um pingo de sangue (entre os maiores da Nova Zelândia), uma vasilha com água (pelesvermelhas), uma poça de água (Roma e África), água numa taça de vidro claro (em Fez), ou quase qualquer espécie de superfície polida"(Sonhos e Espectros, p. 57). 

Duas páginas depois o sr. Lang dá-nos um ótimo exemplo da espécie de visão que mais freqüentemente se consegue desta maneira. "Tinha eu dado uma esfera de vidro", diz ele, "a uma jovem, Miss Baillie, que quase nada conseguiu ver nela. Ela emprestou-a a uma amiga, Miss Leslie, que viu um sofá antigo, grande, encarnado, coberto de musselina, que veio a encontrar numa casa de campo, que então desconhecia, e dali a dias aconteceu visitar. O irmão de Miss Baillie, um jovem atleta, chasqueou destas experiências, levou a esfera para o escritório e daí a pouco reapareceu, mostrando-se um tanto ou quanto perturbado. Admitiu que tinha visto uma visão — alguém que conhecia num quarto iluminado por um candeeiro. Durante a semana havia de descobrir se tinha acertado ou não. Aconteceu isto num domingo, às cinco e meia da tarde. 

"Na terça-feira o sr. Baillie estava num baile numa cidade a umas quarenta milhas de distância de casa, e encontrou uma Miss Preston. "No domingo", disse ele, "pelas cinco horas e meia, vi-a; estava sentada ao pé dum candeeiro de petróleo, com um vestido que nunca lhe vi, uma blusa azul com rendas sobre os ombros; e estava deitando chá na chávena de um indivíduo vestido com um fato azul, que estava de costas para mim, de modo que da cara apenas lhe vi a guia do bigode". "Ora essa! exclamou Miss Preston." "Então não estavam corridos os estores!" 

"Eu estava em Dulby", respondeu o sr. Baillie, "e sem dúvida assim fora." É este um caso absolutamente típico de cristalovidência — a cena absolutamente exata em todos os seus detalhes, como viram, e contudo absolutamente sem importância e evidentemente sem significação nenhuma para qualquer das pessoas, a não ser que serviu para provar ao sr. Baillie que a cristalovidência não era uma pura ilusão. E mais vulgar, talvez, as visões terem um caráter romântico — indivíduos em trajes estranhos, ou paisagens muito belas, ainda que em geral desconhecidas. 

Ora qual é a explicação desta espécie de clarividência? Como acima indiquei, pertence em geral ao tipo de "corrente astral", e o cristal, ou outro qualquer objeto, constitui simplesmente um foco para a vontade do vidente, um ponto de partida conveniente para o seu tubo astral. Há indivíduos capazes de influenciar pela vontade aquilo que vêem, isto é, que têm o poder de apontar o telescópio para onde desejam; mas a grande maioria apenas pode formar um tubo casual e ver simplesmente o que acontece estar ao fim dele. 

Às vezes trata-se, como no caso citado, de uma cena relativamente próxima; outras vezes a visão será de uma longínqua paisagem do oriente; outras, ainda, poderá ser o reflexo de qualquer fragmento de um registro acásico, e então a cena mostrará figuras com qualquer traje antigo, e o fenômeno pertencerá portanto à nossa terceira grande classe, a "clarividência no tempo". Diz-se que visões do futuro também às vezes surgem nos cristais; trata-se de um desenvolvimento de visão a que adiante nos referiremos. 

Já vi um clarividente empregar, em vez da vulgar superfície brilhante, uma superfície baça, preta — uma mão cheia de carvão em pó num pires. De resto, parece ter pouca importância o objeto que serve de foco, exceto que o cristal puro tem sobre as outras substâncias a nítida vantagem de o arranjo peculiar de essência elemental ser especialmente excitante das faculdades "psíquicas". 

Parece, porém, provável que nos casos onde uni pequeno objeto brilhante se emprega — como um ponto luminoso, ou o pingo de sangue dos maiores — o caso seja, realmente, apenas de auto-hipnotização. Entre nações não-européias a experiência é muitas vezes precedida ou acompanhada por ritos e invocações mágicas, de modo que é muito provável que a visão que se consiga seja realmente, não a do indivíduo, mas apenas a de qualquer entidade estranha, e assim o fenômeno será apenas um caso de possessão temporária, e não verdadeiramente de clarividência.

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