Para além deste estágio é evidente que nada podemos saber das novas qualificações exigidas para os níveis ainda superiores que ainda estão adiante do homem perfeito. É bastante claro porém que, quando um indivíduo se torna Asekha, esgotou todas as possibilidades de desenvolvimento moral, de modo que um progresso ulterior só pode significar para ele a aquisição de conhecimentos ainda mais vastos e de poderes espirituais ainda mais extraordinários. Dizem-nos que, quando o homem assim atingiu a sua maioridade espiritual, quer no lento decurso da evolução, quer pelo caminho mais curto do desenvolvimento de si próprio, ele toma o mais pleno domínio dos seus próprios destinos, escolhendo a linha da sua futura evolução dentre sete possíveis caminhos que ele vê abrirem-se diante de si.
Está claro que, no nosso nível presente, não podemos compreender muito a respeito destes, e o vago esboço de alguns deles, que é quando nos pode ser dito, explica muito pouco ao nosso espírito, exceto que a maioria deles leva o Adepto inteiramente para fora da nossa cadeia terrestre, que já não tem âmbito suficiente para a sua evolução.
Um caminho é aquele dos que, como diz a frase técnica, "aceitam o Nirvana." Durante quantos incalculáveis milênios eles permanecem nessa sublime condição, para que trabalho se estão preparando, qual será a sua futura linha evolutiva, são questões sobre as quais nada sabemos; e, na verdade, se alguma informação nesse sentido nos pudesse ser dada, o mais certo é que resultaria de todo incompreensível para nós no nosso estágio atual.
Mas podemos compreender ao menos isto — que o sublime estado do Nirvana não é como alguns ignorantemente supõem, uma condição de absoluto nada mas ao contrário, um estado de atividade imensamente mais intensa e benéfica; e que, à medida que o homem vai subindo na escala da natureza, maiores vão sendo as suas possibilidades, cada vez mais vasto e grandioso o seu trabalho em favor dos outros, e que a sabedoria infinita e o infinito poder significam para ele apenas a infinita capacidade para se dedicar, porque são dirigidos pelo amor infinito.
Uma outra classe escolhe uma evolução espiritual já não tão afastada da humanidade, porque, conquanto se não ligue diretamente à cadeia seguinte do nosso sistema, prolonga-se por dois períodos correspondentes à sua primeira e segunda rondas, ao fim das quais parece que também "aceitam o Nirvana", ainda que em nível superior àqueles anteriormente mencionados.
Outros seguem a evolução dos devas, cujo progresso está numa grande corrente consistindo de sete cadeias como as nossas, cada uma das quais é para eles um mundo. Desta linha evolutiva diz-se que é a mais graduada, e por isso a menos difícil das sete; mas conquanto às vezes os livros lhe chamem "o sucumbir à tentação de se tornar um deus", é apenas em comparação com a sublime altura da renúncia do Nirmanakaya que aquela se pode descrever desta maneira quase depreciadora, porque o Adepto, que escolhe este caminho, tem deveras diante de si uma carreira gloriosa, e, ainda que a senda que escolhe não seja das mais curtas, é porém das mais nobres.
Um outro grupo é formado pelos Nirmanakayas — aqueles que, pondo de parte todos estes métodos mais fáceis, escolhem o caminho mais breve, porém mais íngreme, para as alturas que ainda ante eles se erguem. Eles formam aquilo que poeticamente se chama o Muro da Guarda", e, como nos informa A Voz do Silêncio, "protegem o mundo de mais e maior tristeza e sofrimento", não, na verdade, guardando-o de más influências externas, mas dedicando toda a sua vontade ao trabalho de sobre ele derramar uma torrente de força e de auxílios espirituais, sem os quais ele por certo estaria em muito piores circunstâncias do que hoje está.
Há aqueles que ficam ainda mais diretamente em relação com a humanidade, e continuam entre ela a encarnar, escolhendo o caminho que conduz através dos quatro estágios daquilo a que acima chamamos o período oficial; entre estes estão os Mestres da Sabedoria — aqueles de quem nós que estudamos a Teosofia aprendemos os fragmentos que sabemos da estupenda harmonia da Natureza em evolução. Mas parece que apenas um número relativamente pequeno adota esta linha — provavelmente apenas tantos quantos são precisos para realizar e continuar esta parte física da obra.
Ao ouvir falar destas diferentes possibilidades, há quem sem pensar exclame que não podia, é claro, haver no espírito de um Mestre outro pensamento que não fosse o de escolher aquele caminho que os leva a mais poder auxiliar a humanidade — observação que um conhecimento maior evitaria que fizessem, Nunca devemos esquecer que há outras evoluções no sistema solar além da nossa, e é sem dúvida necessário à realização do vasto plano do Logos que haja Adeptos trabalhando em todas as sete linhas a que nos temos referido. Seguramente que a escolha do Mestre será para onde o seu trabalho seja mais preciso — para colocar os seus serviços, com absoluto altruísmo, à disposição dos Poderes encarregados desta parte do grande esquema evolutivo.
É este, pois, o caminho que se abre diante de nós, o caminho que cada um de nós deveria principiar a trilhar. Por estupendas que pareçam as suas alturas, devemos lembrar-nos que elas são atingidas só gradualmente e passo a passo, e que aqueles que ora estão nos píncaros já se debateram na lama dos vales, como nós nos debatemos agora. Ainda que este caminho pareça a princípio difícil e trabalhoso, à medida que subimos, os nossos passos tornam-se mais firmes e a nossa visão mais vasta, e assim nos encontramos em melhores condições para poder auxiliar aqueles que vão subindo ao nosso lado.
Porque é assim árduo e trabalhoso para a personalidade inferior, deu-se às vezes a este caminho o nome, aliás muito impróprio, de "a senda da amargura"; mas, como muito bem disse a Dra. Besant, 'através de todo esse sofrimento há uma alegria íntima e permanente, porque o sofrimento é da natureza inferior, e a alegria da superior. Quando o último vestígio da personalidade desapareceu, desapareceu tudo quanto em nós pode assim sofrer, e no Adepto aperfeiçoado há uma paz ininterrupta e uma alegria perpétua. Ele viu o fim para que tudo tende, e congratula-se com esse fim, sabendo que a tristeza da terra não é senão uma fase passageira da evolução humana.
"Aquilo de que pouco se tem falado é o profundo contentamento que nasce de estarmos sobre o caminho, de compreender a meta e a estrada para ela, de saber que o poder de ser útil aumenta em nós, e que a nossa natureza inferior está sendo pouco a pouco extirpada. E pouco se tem dito, também, dos raios de alegria que caem sobre o caminho desde os níveis superiores, os vislumbres estonteantes da glória ainda não revelada, a serenidade que as tempestades da terra não podem perturbar. Para alguém que entrou para o caminho, todas as outras estradas perderam o seu atrativo, e as suas tristezas dão-lhe um prazer maior que as melhores alegrias do mundo inferior." (Vahan, vol. n.° 12).
Que ninguém desespere, portanto, por julgar a tarefa grande demais para si; o que o homem fez o homem pode fazer, e, exatamente na proporção em que dermos o nosso auxílio aqueles que podemos ajudar, nos darão aqueles que atingiram, por sua vez, o seu auxílio. Assim, desde o ínfimo ao mais alto, nós, que estamos trilhando o caminho, estamos ligados uns aos outros por uma longa cadeia de mútua dedicação, e escusa qualquer de nós de se sentir só ou abandonado, porque, conquanto por vezes os primeiros lances da escadaria estejam envoltos em névoa, sabemos que conduz a regiões mais felizes e a ares mais puros, onde a luz brilha eternamente.