Nesta classe podemos reunir todos aqueles casos em que as visões de qualquer acontecimento que se esteja passando a distância surgem inesperadamente e sem qualquer espécie de preparação. Há gente sujeita a este gênero de visões, ao passo que a muitos tal fenômeno aconteceu apenas uma vez em toda a vida. As visões são de todas as espécies e de todos os graus de perfeição, e podem, aparentemente, ser produzidas por várias causas.
Às vezes a razão da visão é evidente, e o assunto da maior importância; outras vezes não se pode encontrar razão para ela, e os acontecimentos vistos são dos mais banais e sem relevo. Às vezes estes vislumbres da faculdade suprafísica vêm como visões em vigília; outras vezes revelam-se durante o sono como sonhos vívidos ou repetídíssimos. Neste último caso a vista empregada é, em geral, talvez da espécie que descrevemos na nossa quarta subdivisão da clarividência no espaço, porque o indivíduo que dorme viaja freqüentemente no seu corpo astral a um ponto qualquer com o qual as suas afeições ou os seus interesses estejam fortemente relacionados, examinando simplesmente o que se esteja passando nesse ponto; no outro caso parece mais provável que se esteja dando o segundo tipo de clarividência, por meio da corrente astral. Mas neste caso a corrente ou tubo é formado de modo inteiramente inconsciente, e é muitas vezes o resultado automático de um pensamento ou emoção forte projetado de uma extremidade ou de outra — do vidente ou do indivíduo visto.
O plano mais simples será o de dar alguns exemplos dos vários gêneros, juntando-lhes as explicações que pareçam necessárias. O sr. Stead coligiu um grande e variado número de casos recentes e bem-autenticados no seu livro Histórias Verdadeiras de Espectros, de onde extrairei alguns dos meus exemplos, resumindo ligeiramente, por vezes, para poupar espaço.
Há casos em que é imediatamente evidente a qualquer estudioso da Teosofia de que o caso excepcional de clarividência foi especialmente produzido por um do grupo a que chamamos os "Auxiliares Invisíveis", com o fim de que auxílio fosse prestado a alguém que dele muito carecia. A esta classe, sem dúvida, pertence o caso relatado pelo capitão Yonnt, de Napa Valley, Califórnia, ao dr. Bushnell, que o conta no seu livro A Natureza e o Sobrenatural (p. 14).
"Há seis ou sete anos, numa noite de inverno, ele teve um sonho em que viu o que parecia ser um grupo de emigrantes preso pelas neves das montanhas, e sucumbindo rapidamente ao frio e à fome. Reparou no aspecto da paisagem, caracterizada sobretudo por uma grande mole perpendicular de rochedo branco; viu os homens cortando o que parecia ser cimos de árvores, que saíam de fundos abismos de neve; fixou as próprias fisionomias das pessoas e a expressão geral de angústia que tinham.
"Acordou profundamente impressionado com a nitidez e aparente realidade do sonho. Tornou a adormecer, e tornou, com igual vividez, a sonhar o mesmo sonho. De manhã não conseguiu arrancá-lo do espírito. Encontrandose, poucas horas depois, com um velho camarada, caçador, contou-lhe o caso, e ainda mais impressionado ficou quando o outro lhe declarou reconhecer imediatamente a paisagem descrita. Esse camarada tinha atravessado a Sierra pelo Carson Valley Pass, e disse que havia um lugar nesse trajeto que era exatamente como ele descrevera.
"Com isto o capitão, aliás homem de decisões rápidas, não hesitou. Reuniu um grupo de homens com mulas, cobertores e provisões. Os vizinhos riam da sua credulidade. "Não importa", dizia ele; "posso fazer isto, e não deixarei de o fazer, porque creio, verdadeiramente, que este meu sonho é certo." Os homens foram mandados seguir para cento e cinqüenta milhas daí, diretamente para Carson Valley Pass. E lá encontraram toda a companhia exatamente nas condições que o sonho indicara, conseguindo trazer consigo os sobreviventes."
Visto que não consta que o capitão Yonnt tivesse o hábito de ter visões, parece evidente que qualquer Auxiliar, vendo a condição desesperada do grupo de emigrantes, pegou na pessoa impressionável que estava mais próxima e mais útil seria para o caso (calhando ser o capitão) e o transportou ao local no corpo astral, acordando-o suficientemente para que a cena lhe não saísse da memória. Pode ser que o Auxiliar tivesse, em lugar disso, arranjado uma "corrente astral" para o capitão, mas o outro processo é o mais provável. Em todo o caso, o motivo, e mesmo o processo, são, neste, caso, bastante claros.
Às vezes a "corrente astral" pode ser posta em ação por um forte pensamento emotivo da outra extremidade do fio, e isto pode acontecer mesmo que o pensador não tenha conscientemente desejado que assim seja. No caso, assaz curioso, que vou relatar, é evidente que a ligação se encontra no fato de o doutor pensar constantemente em Mrs. Broughton, ainda que não tivesse um desejo especial de que ela soubesse o que ele na ocasião estava fazendo. Não há dúvida que se trata deste gênero de clarividência: demonstra-o a fixidez do ponto de vista de Mrs. Broughton — o qual, note-se bem, não é o ponto de vista do doutor, simpaticamente transportado (como podia ter acontecido), visto que ela lhe vê as costas sem o reconhecer. O relato encontra-se nos Anais da Sociedade de Investigação Psíquica (vol. II, p. 160).
"Me. Broughton acordou de repente, numa noite do ano de 1844, e, acordando o marido, disse-lhe que uma cousa horrível tinha acontecido em França. Ele pediu-lhe que dormisse, e o não incomodasse. Ela respondeulhe que não estava a dormir quando viu o que por força lhe quis contar — o que na verdade vira.
"Primeiro um desastre de carruagem — ela não viu o desastre, mas apenas os resultados —, uma carruagem partida, uma multidão, um corpo erguido com cuidado e transportado para a casa mais próxima, e depois, sobre uma cama, uma figura que reconheceu como sendo a do duque de Orleans. Pouco a pouco viu amigos juntarem-se em torno ao leito — entre eles vários membros da família real francesa — a rainha, depois o rei, todos silenciosos, chorando, olhando para o duque evidentemente moribundo. Um indivíduo (ela não lhe via senão as costas e não podia saber quem era) era médico. Estava debruçado sobre o duque, tomando-lhe o pulso, com o relógio na outra mão. Depois a visão passou, e ela não tornou a ver mais nada.
"Logo que raiou o dia, Mrs. Broughton escreveu no seu diário tudo o que tinha visto. Era antes de haver a telegrafia elétrica, e por isso passaram dois ou mais dias antes que o Times noticiasse "A Morte do Duque de Orleans". Visitando Paris pouco depois, ela viu e reconheceu o local do desastre e teve também a explicação da impressão que recebera. O médico, que estivera ao pé do duque moribundo, era um velho amigo dela, e, ao estar ao pé do leito do duque, estava, por qualquer razão, constantemente pensando nela e na sua família."
Um caso mais vulgar é aquele em que uma afeição forte estabelece a precisa corrente; provavelmente uma corrente relativamente constante de pensamento mútuo está, nesse caso, constantemente passando entre os dois indivíduos, e qualquer súbita precisão ou difícil conjuntura da parte de qualquer deles dá temporariamente a essa corrente o poder de polarização que é necessário para que haja o telescópio astral. Um bom exemplo vem citado nos mesmos Anais (vol. I, p. 30).
"A 9 de setembro de 1848, no cerco de Mooltan, o General R ..., então ajudante do regimento, foi gravemente ferido; e, supondo-se à beira da morte, pediu a um dos oficiais que estavam com ele que lhe tirasse a aliança do dedo e a mandasse a sua esposa, que estava então a boas cento e cinqüenta milhas de distância, em Ferozepore.
"Na noite de 9 de setembro de 1848, escreve sua esposa, "estando eu deitada sobre a cama, quase a pegar no sono, vi claramente o meu marido ser levado do campo de batalha, seriamente ferido, e ouvi a sua voz dizendo, "Tirem-me este anel do dedo e mandem-no a minha mulher." Durante todo o dia seguinte não pude arrancar do meu espírito quer a visão, quer a voz que ouvira.
"Depois vim a saber que o general R ... tinha sido gravemente ferido no ataque a Mooltan. Escapou porém, e ainda vive. Foi só bastante tempo depois do cerco que ouvi dizer ao general L ..., o oficial que ajudou a conduzir meu marido para fora do campo de batalha, que o pedido a propósito do anel fora realmente feito por ele, exatamente pelas palavras que eu ouvi, na mesma ocasião, em Ferozepore."
Há, depois, aquela grande classe de clarivisões casuais que não têm causa que se possa descobrir — que não têm, aparentemente, sentido nenhum, ou relação alguma com quaisquer acontecimentos conhecidos do vidente. A este grupo pertencem muitas das paisagens vistas por algumas pessoas antes de adormecer. Transcrevo um relato, magnífico e fortemente vincado, do livro Histórias Verdadeiras de Espectros do sr. W. T. Stead (p. 65):
"Deitei-me mas não pude dormir. Fechei os olhos e esperei que o sono chegasse; em vez de sono surgiram-me, porém, em série, vários quadros clarividentes curiosamente vividos. Não havia luz no quarto, e estava tudo absolutamente escuro; além disso, tinha os olhos fechados. Mas, apesar da escuridão, tive de repente consciência de estar olhando para uma cena de singular beleza. Era como se estivesse olhando para uma miniatura viva, do tamanho de uma chapa de lanterna-mágica. Tenho agora presente a cena, como se ainda a estivesse vendo. Era uma paisagem à beira-mar. A lua brilhava sobre as águas, _que subiam pela praia lentamente. Defronte de num uma extensa mole de terra entrava pelo mar dentro.
"De cada lado dela havia rochedos irregulares, erguendo-se acima da superfície das águas. Na costa estavam várias casas, quadradas e rudes, sem semelhança com qualquer tipo de casa que eu conhecesse. Não havia ali vivalma, mas só a lua e o mar e o brilho do luar sobre as águas inquietas, exatamente como se eu estivesse olhando diretamente para a paisagem real.
"Era tão belo que me recorde de ter pensado que, se aquilo continuasse, eu tomaria tanto interesse que não me deixaria dormir. Estava bem acordado, e ao mesmo tempo que via essa cena, ouvia claramente o som da chuva lá fora. Então, de repente, sem fim ou razão aparente, a cena mudou.
"O luar e o mar desapareceram, e. em vez de os ver, vi que estava olhando para o interior de uma sala de leitura. Parecia uma sala usada para aula de dia, e para sala de leitura de noite. Lembro-me de ver um leitor curiosamente parecido com o Tim Harrington, se bem que não fosse ele. levantar na mão um livro ou revista e desatar a rir. Não era um quadro: estava ali.
"A cena era exatamente como se se estivesse a olhar por um binóculo; viase o jogo muscular, o brilho dos olhos, todos os movimentos das pessoas desconhecidas no lugar desconhecido para onde se estava olhando. Vi tudo isso sem abrir os olhos, nem propriamente tinham meus olhos qualquer cousa que ver com aquilo tudo. Estas cousas vêem-se como que com um outro sentido, que mais parece estar dentro da cabeça do que nos olhos.
"Foi uma experiência muito fraca e sem importância, mas fez-me compreender, melhor do que milhares de explicações, como é que os clarividentes vêem.
"Os quadros eram a propósito de nada; não foram sugeridos por cousa alguma que eu tivesse lido ou de que tivesse falado; apareceram simplesmente como se eu pudesse espreitar por uma janela para o que estava acontecendo num outro lugar qualquer. Espreitei essa vez, e passou, nem tornei a ter outra experiência desse gênero."
O sr. Stead acha que aquilo foi "uma experiência muito fraca e sem importância", e talvez assim a devamos considerar em relação às maiores possibilidades; conheço, porém, muitos estudiosos que se considerariam felizes se tivessem tido tanto como isso a contar de sua experiência pessoal. Por pequena que seja, dá imediatamente ao vidente uma noção verdadeira do fenômeno, e para o indivíduo que viu mesmo esse pouco a clarividência é um fato real a um ponto que nunca poderá ser para o que não tiver tido esse pequeno contato com o mundo invisível.
Esses quadros foram vividos demais para que pudessem ser meros reflexos do pensamento alheio, e, além disso, a descrição mostra, sem que possa haver dúvida, que foram vistos por um telescópio astral; de modo que, ou o sr. Stead inconscientemente estabeleceu, por si, uma corrente, ou (o que é mais provável) qualquer amável entidade astral lhe fez esse serviço. dando-lhe, para lhe aliviar uma hora aborrecida, quaisquer quadros agradáveis que acontecesse estarem no fim do tubo.